Jornalista Klester
Cavalcanti revela curiosidades sobre o processo de escrita do livro “O Nome da
Morte”
Por Gabriela Alencar
Camiseta verde, calça jeans
e tênis. Senta-se em cima da mesa da sala de palestras e não utiliza microfone.
É assim que Klester Cavalcanti se apresenta na última quinta-feira (27) nas
Faculdades Integradas Rio Branco. Bastante informal, ele preferiu que os
presentes lhe fizessem perguntas, ao invés de fazer um monólogo.
Jornalista e autor de quatro
livros (Direito da Selva, Viúvas da Terra, O Nome da Morte e Dias de Inferno na
Síria) sendo os três últimos ganhadores do prêmio Jabuti de Literatura, o pernambucano
Klester se mostrou bastante educado e atencioso durante o encontro, respondendo
a todos os questionamentos feitos.
O principal tema da conversa
foi o livro “O Nome da Morte”. Klester nos conta “A ideia inicial era fazer uma
matéria para a revista Veja, só que ele não queria colocar o nome real, e eu
não faço matéria sem nome real. Mas a história do cara era fantástica, e eu sou
muito persistente, sabia que um dia ia conseguir convencer ele”.
Foto da capa do livro: "O Nome da Morte/ Divulgação |
Durante todos os anos de conversa
por telefone, e de todas as histórias contadas por Júlio, Klester também
apurava todos os fatos, pesquisava tudo, entrevistava pessoas envolvidas,
familiares das vítimas, para poder ter um relato verídico com todas as partes
envolvidas, “porque eu acho que é esse trabalho que eu faço que deixa os meus livros
legais, eu não falo só a historia do personagem, eu conto o que teve em torno”.
A curiosidade geral foi se Klester
em algum momento ficou com medo, ou com algum receio na hora de entrevistar
Júlio Santana, afinal ele era um matador de aluguel que já matou quase 500
pessoas, mas o jornalista nos conta que o tratava apenas como uma fonte. “O
Júlio para mim é uma fonte. Quando eu faço um trabalho eu não julgo se o cara é
um matador, padre, empresário, arquiteto, eu vou entrevistar uma pessoa, uma
fonte. Não me interessa os valores do cara, se é bom ou mal, se é rico ou pobre".
E dá uma dica para os
futuros jornalistas: “A entrevista é um namoro, é uma conquista, você vai
conquistar a pessoa e vice e versa. Você tem que tratar todo mundo igual e com
Júlio era assim, para mim era uma fonte e eu tenho certeza que ele sentiu isso”.
Um dos pontos de grande
destaque na palestra foi quando a professora de ética e legislação, Renata
Carraro, perguntou a Klester o porquê ele não ter entregado um assassino de aluguel
à polícia, se essa atitude foi antiética da parte dele. Klester rebate: “Eu
sou jornalista, eu não sou policial. Meu trabalho ali era contar a história do
cara”. Ele comenta que quem passou o contato de Júlio para ele foi um policial
federal. “A polícia foi quem o entregou, vou dar o cara de volta?”, contesta.
“Para mim como jornalista
seria antiético eu entregar o Júlio, o cara é minha fonte, ele confiou em mim. A
relação é a seguinte, eu vou contar a sua história. Eu tinha que ser fiel ao
que eu falei com ele”. Cavalcanti esclarece que a denúncia é através de seu
livro, um homem que matou 492 pessoas e nunca foi preso ou condenado. É justamente
para mostrar como no Brasil existe uma pessoa assim e está solta até hoje. “Esse
cara é uma pessoa no sistema, ele não é o único assassino de aluguel do
Brasil”.
No livro todas as informações, datas, nomes, sobrenomes, lugares são reais. O jornalista explica que para ser um verdadeiro trabalho jornalístico, é necessário que tudo seja apurado e checado, se não para ele trata-se de ficção. “Se você não me contar o nome real nas pessoas, como e onde foi o fato, para mim é lenda”, afirma.
No livro todas as informações, datas, nomes, sobrenomes, lugares são reais. O jornalista explica que para ser um verdadeiro trabalho jornalístico, é necessário que tudo seja apurado e checado, se não para ele trata-se de ficção. “Se você não me contar o nome real nas pessoas, como e onde foi o fato, para mim é lenda”, afirma.
Apesar de “O Nome da Morte” ter
sido publicado em 2006, Klester sanou a curiosidade dos presentes, ao declarar
que ainda mantém contato com o ex-matador de aluguel, que hoje está aposentado.
Ele revela que liga para Júlio todos os anos, no dia do aniversário dele e que
recebe ligações no Natal ou em outras datas. E ainda que repassa 20% do que
ganha com o livro para Júlio, através de um acordo verbal.
Jornalista e escritor Klester Cavalcanti/Divulgação |
“Além
de fã, virei amiga”
Renata Carraro, professora
das Faculdades Rio Branco, nos cursos de direito e jornalismo, é amiga de longa
data de Klester e nos revela como o conheceu. "Eu conheci o Klester quando
eu fui jurada do prêmio Valdimir Herzog, na categoria livro reportagem. E um
dos livros que estavam concorrendo ao prêmio, era O Nome da Morte”. Mas,
naquela ocasião, o livro de Klester não foi o vencedor.
“O meu voto foi para o livro
dele. Eu achei maravilhoso, em termos de uma narrativa perfeita, um texto perfeito,
em termos de apuração. O assunto era inédito”, conta. Dois meses depois, na
entrega do prêmio Jabuti, em que o livro “O Nome da Morte” foi o vencedor,
Carraro finalmente teve a oportunidade de conversar com o jornalista e comentar
sobre suas impressões a respeito do livro. “Desde então, fomos ficando mais
amigos. Ele começou a vir falar com os meus alunos, eu o apresentei para outros
colegas e além de fã, virei amiga”.
O
processo de escrita
Klester Cavalcanti conta que
prefere anotar tudo, todas as informações passadas pelas pessoas durante as
entrevistas, do que utilizar um gravador, porque considera chato ter que ouvir
tudo depois. “As minhas entrevistas são sempre com um bloquinho e uma caneta”.
Ele conta “Eu tenho uma
ótima memória, se eu escrever uma frase, eu lembro de tudo que a pessoa me falou,
de dez minutos de conversa”. Processo muito parecido com o famoso jornalista americano
Truman Capote, que inaugurou o chamado jornalismo literário através do livro, A
Sangue Frio. Segundo relatos, Capote possuía uma ótima memória e consegui
gravar 95% de todas as conversas que tinha com seus entrevistados, sem utilizar
gravadores.
Por fim, Klester nos conta
que quando têm todas as informações apuradas e investigadas, é que ele começa a
escrever, essas incríveis e chocantes histórias.