segunda-feira, 17 de março de 2014
Há 50 anos, a Beatlemania desembarcava nos Estados Unidos
Por Nathan Rodrigues
Os quatro rapazes de Liverpool estavam acomodados em seus quartos, no Hotel George V, em Paris, prontos para dormir, quando receberam a notícia de que o single “I Want to Hold Your Hand” havia se tornado hit número 1 nos Estados Unidos. A canção pulou da posição 43 para o topo das paradas e o empresário da banda, Brian Epstein, achou que o momento era ideal para uma viagem até o Novo Continente.
Três dias após as apresentações em território francês, os Beatles cruzavam o Atlântico para os seus primeiros concertos na América, sem imaginar, contudo, o pandemônio que os aguardava. Ao desembarcar no recém-batizado Aeroporto John F. Kennedy, em 7 de fevereiro de 1964, o quarteto inglês apresentou ao mundo a Beatlemania, que capitaneou a chamada Invasão Britânica e redefiniu os rumos da música pop.
“A Invasão Britânica teve grande importância não só por ter aberto as portas dos artistas britânicos no maior e mais importante mercado para a música pop, mas por ter ajudado na divulgação desses artistas para o resto do mundo. Além disso, também incentivou o intercâmbio musical entre os países, que se ampliou bastante a partir daí”, analisa o jornalista Fabian Chackur, do blog “Mondo Pop”.
Amparada por um single arrasador e um inteligente plano de divulgação — Epstein havia firmado, meses antes, um acordo com o famoso apresentador Ed Sullivan e a Capital Records espalhou pelo país seis milhões de cartazes com os dizeres “Os Beatles vêm aí!” — a banda foi recepcionada por quatro mil jovens e saboreou um pouco da loucura que a acompanharia durante os 34 dias de compromissos na América.
RECORDES E INDIFERENÇA
As primeiras apresentações mostraram a John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr que a Beatlemania, na Terra do Tio Sam, era muito mais insana do que na Europa. O primeiro show na televisão americana, marcado para 9 de fevereiro, no The Ed Sullivan Show, foi assistido por 74 milhões de telespectadores, um recorde para a época. O número representava metade da população local.
Não importa onde fossem, os fãs estavam por perto. Nesta altura, a música era só pano de fundo. A Beatlemania tomara de assalto os Estados Unidos. “Os Beatles já eram uma banda de muito sucesso, mas não dá para negar que, a partir daquela conquista, os horizontes para os Fab Four se ampliaram significativamente”, afirma Chackur.
Se o conjunto nutria uma boa imagem com a sua audiência, o mesmo não poderia ser dito da imprensa norte-americana. Mesmo com o intenso clamor popular, a banda foi tratada com desdém pela mídia e os Beatles foram taxados de “desastrosos” e “ridículos”. Nem mesmo a histórica apresentação no Ed Sullivan Show acalmou os ânimos dos jornalistas. A CBS classificou o evento como “não-herois, fazendo não-músicas e usando não-cortes de cabelo”, enquanto o Washington Post definiu os músicos britânicos como “caipiras importados que parecem cães pastores e soam como gatos de rua em agonia”.
Para Paulo Roberto de Camargo, professor de Psicologia Social das Faculdades Integradas Rio Branco, as mudanças culturais e sociológicas trazidas pelos Fab Four — como qualquer alteração — custou um tempo para ser aceita. “A Beatlemania, em termos comportamentais, pode ser entendida como uma corporalidade, principalmente em relação ao feminino, aquela corporalidade contida, que, de repente, explode. A mídia dos Estados Unidos, a princípio, tratou esse evento de massa como algo passageiro, ou seja, o povo consome, vem outro evento e dá prosseguimento”, destaca.
INFLUÊNCIAS ALÉM-MÚSICA
Mais que a cartilha musical criada pelos Beatles, base para o trabalho de muitos artistas pop da atualidade, a Beatlemania também ditou moda e quebrou antigos padrões comportamentais.
Além disso, os Fab Four foram os primeiros heróis de uma geração pós-guerra, apresentando a uma gama de jovens o bom e velho rock’n roll. “A Beatlemania, pensando em veículos de comunicação, pegou canais que amplificavam mais a música. Colocando isso numa sociedade de massa, com essa quebra de valores, esse fenômeno dava um outro sentido para uma geração que buscava outras formas de comportamento”, explica Paulo Camargo.
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